Precisamos conversar sobre a prática do aborto paterno.











   O aborto é um assunto inesgotável em nossa sociedade, expressando-se como um tema de recorrente debate midiático. Ele refere-se às discussões e controvérsias que envolvem a situação moral, bioética,  biopolítica, psicologica, social e legal da sua prática, envolvendo a mulher e seu corpo, a relação de genitora e filho. Porém, o assunto igualmente pertinente e não abordado com a devida relevância, diz respeito à prática do aborto paterno. 

   O verbo abortar (V. Tr.) tem seu significado voltado ao ato de interromper o pleno desenvolvimento gestacional, bem como o de impedir o êxito de algo. Frustrar. E é aqui que nos referimos ao caráter paterno. Muitos são os julgamentos em torno da perspectiva do direito da mulher sobre as tomadas de decisão maternal. Entretanto, pouco é debatido acerca da atitude dos homens que, mesmo sendo pais, rejeitam o exercício espontâneo da sua prática, rejeitando seus filhos, abortando o direito à convivência, ao desenvolvimento saudável de estrutura psicossocial ,além das questões de vínculos  afetivos.

    A literatura aponta que a participação efetiva do pai na vida de um filho promove segurança, autoestima, autonomia e estabilidade emocional. Já na década de 80, Lebovici (1987) destaca que se a criança consegue contar com pais afetivos que lhe proporcionem apoio, conforto e proteção ela é capaz de desenvolver estruturas psíquicas suficientemente seguras para enfrentar as dificuldades da vida.

 Conforme Benczik (2011), referindo a teoria psicanalítica, destaca o papel estruturante do pai, a partir da instauração da conflitiva edípica e posteriormente, na adolescência, quando se dá a maturação das questões sexuais. O mesmo  ressalta ainda que na infância,  as crianças que têm o pai presente expressam autoestima superior àquelas que têm pai ausente e que a presença positiva da figura paterna ajuda a afastar uma série de transtornos psicológicos (2011). Estudos recentes apontam que o distanciamento físico e/ou emocional da figura paterna elevam a probabilidade à maior instabilidade emocional,  aumento  de consumo de drogas,  problemas de condutas na infância e adolescência.

 O impacto do distanciamento, seja físico e/ou afetivo, repercute se refletindo em sentimentos de desvalorização, abandono, solidão e insegurança.  Diante dessa breve abordagem,  evidencia-se os prejuízos frente à rejeição (aborto) paterno, uma vez que a mesma demonstra estar relacionada a diversos problemas comportamentais e psicológicos que podem perdurar durante toda a vida do indivíduo e acarretar consequências graves.

 Deste modo, é de extrema importância a conscientizacão sobre o relevante senso de responsabilidade afetiva e moral no exercício da paternidade para o pleno desenvolvimento de filhos e futuros cidadãos mais felizes, equilibrados e saudáveis, contribuindo,  assim   para a superação dos desafios do processo de cura apresentados no decorrer da vida, no movimento da emancipação da humanidade. 


 

Marjorie Calumby 
Psicanalista,  psicopedagoga,  pedagoga,  professora universitária do curso de psicologia, colunista e palestrante 

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