O que tornaria uma mulher numa mãe?
Teoricamente, bastaria ter uma relação sexual no período fértil, gerar por alguns meses esse feto e, posteriormente passar por um parto. Eis que surge então o título de mãe!
Mas, de fato, apenas essas características biológicas seriam o suficiente para definirem o “ser mãe”?
Para o discurso do desenvolvimento humano, a maternidade está vinculada ao corpo e à reprodução. Porém, a psicanálise transcende esse pensamento: pode-se estar grávida e não ter o filho no seu desejo, pode-se não ter filhos e ser mãe amplamente no movimento de diversos contextos na sociedade, pode-se desejar estar grávida e não querer ser mãe.
Pois bem,
a maternidade ultrapassa o processo biológico, a procriação e a gestação. O
desejo de ter um filho abarca diferentes sentidos para diferentes mulheres.
Atualmente,
temos que considerar os remanejamentos da instituição familiar e as novas
formas de vida que se tornaram possíveis graças aos avanços da ciência e às
novas posições assumidas pelas mulheres, diante de inúmeras mudanças na civilização.
Ser mãe
foi uma das respostas formuladas por Freud à pergunta sobre o que quer uma
mulher. Hoje, esta resposta se converte em uma pergunta das sociedades contemporâneas.
Pensar a
maternidade nos dias atuais a partir da psicanálise significa interrogar acerca
da validade das teses freudianas sobre o tema, após tantas décadas de
modificações históricas, sociais e culturais.
Certamente, os motivos que levavam as mulheres a terem o
desejo pela procriação não são as mesmas da atualidade, bem como o modo e a
finalidade do exercício da maternidade. Nunca tivemos uma sociedade enfrentando
tantos desafios educacionais, nunca antes se exerceu e se exigiu tantos
afazeres das mulheres e, naturalmente , a maternidade passou a ser uma decisão
estritamente pessoal.
Mas, o que
constitui a definição de mãe, afinal?
Para a
área da psicologia, Ser mãe é
fundamentalmente "Saber amar” Significa dar afeto, proteger, cuidar,
estimar e esta função maternal não se esgota na relação com os filhos biológicos
contudo pode ser exercida em relação a todas as pessoas com quem assumimos este
papel cuidador e afetivo.
Criar X
educar
Assim como
as funções biológicas envolvidas entre a
gestação e o parto não são fatores determinantes para a consolidação da
maternidade, o modo de criar um ser, suprindo tão somente das suas necessidades
como alimentação, abrigo, cuidados com
vestimentas e higiene também não caracterizam em educar um sujeito.
Exercer
função autoritária ou de permissividade são excessos comuns encarados pelos
genitores como fórmulas ideais de educação. Entretanto, ambos acarretam prejuízos emocionais e
comportamentais devastadores ao desenvolvimento do sujeito.
Buscando o equilíbrio na autoridade afetiva
Autoridade
afetiva refere-se ao princípio do estabelecimento de regras e limites aliado à
comunicação e ao afeto. Nesse formato é possível integrar qualidades de
proteção, bons hábitos, definição de limites e, ainda, permitir que esta mãe
tenha liberdade para sentir-se confortável e flexível dentro de sua própria
dinâmica de educação, princípios,
conceitos de valores e relação.
Criar
seria, resumidamente, o perfil mais
fácil: joga-se o filho ao mundo, de qualquer maneira, terceirizando
responsabilidades e cometendo o aborto do verdadeiro compromisso maternal.
Educar
seria o processo trabalhoso, exigindo-se uma demanda de tempo, paciência, perseverança para colher frutos duradouros a
longo prazo.
Ser mãe é, portanto, um
comprometimento amplo, que requer cuidados, zelo, postura, limites e permanentes
ajustes no processo educacional. Não há fórmulas mágicas, mas há estudos
científicos orientando a pedagogia, a psicologia e o bom senso.
A
sociedade clama por mais mães dispostas a educar do que apenas parir e cometer
abortos com demandas de negligência emocional e afetivas. O mundo agradece
pelas mães que desejam transformar o mundo, começando dentro de sua casa, pela
base estrutural, enriquecida por fatores cuidadosamente embasados por
responsabilidade, oferecidos aos seus filhos.