Relacionamento: para sempre pode ser tempo demais!

 

                                                                            

Segundo Freud (1915), por querer evitar a vivência de perda de um ente querido que o homem criou a ideia de continuidade e permanência. Os filmes de gênero romântico e os contos de fadas também idealizam um relacionamento onde o objetivo é casar e ser feliz para sempre. As religiões e o contexto histórico também endossaram essa ideia como podemos observar

Nos relacionamentos entre homens e mulheres, ha décadas atrás, envolvia o flerte ou o namorico (jogo de gentilezas, olhadelas, gestos, sorrisos) para os homens não causava prejuízo algum, porém a mesma situação era diferente para as moças. Nos anos dourados, essas deveriam cuidar-se para não “manchar a reputação”. Além de comprometer as chances das candidatas à esposa, a prática do flerte por parte das mulheres sugeria uma iniciativa feminina na conquista do homem, o que também era condenável. A iniciativa da conquista era atribuída ao homem. Contudo, se a mulher não se casasse era considerada fracassada socialmente. Por isso as moças utilizavam estratégias antes para atrair pretendentes. Elas procuravam estar sempre de bom humor, vestiam-se bem e buscavam ser amáveis (Bassanezi, 1997; Mazzel, 1962). Nesta mesma época, anos 50, depois de o namoro ser oficializado, o casal cumpria algumas regras: os homens deveriam buscar a moça em casa e depois trazê-la de volta. Caso a moça morasse sozinha, o rapaz não podia entrar. As contas eram sempre pagas pelos homens. Segundo Bassanezi (1997), moças de família não abusavam do álcool, de preferência não bebiam. Piadas mais provocantes eram impróprias, ou seja, a moça deveria impor respeito. O que contavam eram as aparências e o cumprimento de regras, e não a espontaneidade da moça ou sua própria vontade. O namoro era considerado uma etapa preparatória para o noivado e o casamento, e servia como uma fase de adaptação do casal. A namorada deveria mostrar-se prendada, recatada, atenciosa – garantias de uma futura esposa. O namorado interessado deveria mostrar-se sério e com plenas intenções em se casar. Deveria mostrar-se também uma pessoa responsável e capaz de sustentar uma família (Bassanezi, 1997). Na década de 50 e 60, se os pais não “fizessem gosto” pelo casamento de seus filhos, era difícil que esse casamento se realizasse (Del Priore, 1997; Velho, 1986). As revistas da época classificavam as jovens em “moças de família” e “moças levianas” (Bassanezi, 1997, p. 37). As moças de família eram respeitadas pela sociedade da época. Elas poderiam casar-se e serem donas de casa, porém deviam manter-se virgens até o matrimônio. Às levianas tudo era negado, elas eram mal faladas e não aceitas pela sociedade. O casamento entre famílias ricas e burguesas era usado como degrau de ascensão social ou uma forma de manutenção do status. Conforme Del Priore (1997), o papel da mulher na década de 50 e 60 era ser mãe dedicada e atenciosa.  Desde muito cedo a mulher devia ter seus sentimentos devidamente “domesticados e abafados” (Del Priore, 1997, p. 49). 

      A própria Igreja, que permitia casamentos precoces, cuidava de mantê-los assim no confessionário. O desquite, como reforça Bassanezi (1997), era a única possibilidade de separação oficial dos casais nos anos 60, porém, não dissolvia os vínculos conjugais e não permitia novos casamentos. As mulheres desquitadas sofriam preconceito da sociedade e a conduta moral das mulheres separadas estavam constantemente sob vigilância. Com o advento da pílula, segundo Von Koss (2000), o direito da mulher de exercer atividade sexual desvinculada da procriação foi evidenciado. Esse aspecto possibilitou, então, para a mulher a separação entre sexo e casamento. Nos anos dourados, o medo das mulheres jovens era permanecerem solteiras. Deveriam, nesse caso, tratar de preocupar-se com o próprio sustento e se conformarem em ficar sozinha, uma vez que não era permitido a elas terem aventuras amorosas ocasionais. Uma mulher com mais de 20 anos de idade, sem a perspectiva de um casamento, corria o risco de ser vista como “encalhada” (Bassanezi, 1997, p. 22). Aos 25 anos, já era considerada uma solteirona, enquanto um homem de 30 anos, solteiro e com estabilidade financeira, era considerado um bom partido. Um estudo realizado por Rocha-Coutinho (2000) com estudantes universitários do Rio de Janeiro, de ambos os sexos, com idades variando entre 18 e 28 anos mostrou que homens e mulheres buscam encontrar um(a) parceiro(a) para constituir família. Para os participantes deste estudo, relacionamento estável exige cumplicidade, respeito, confiança, troca e companheirismo. Porém, antes da busca pelo relacionamento amoroso, tanto homens como mulheres procuram se estabelecer no campo profissional e financeiro. Nas relações estáveis, o amor é indispensável, sendo o sexo muito importante. Homens e mulheres passaram a ter independência financeira e direitos e deveres divididos com a manutenção da casa, finanças e educação dos filhos. As dificuldades entre o casal passaram a ser provenientes de outros aspectos diferentes dos antepassados. Lidar com a rotina sobrecarregada e combater os efeitos da monotonia no relacionamento passaram a ser um  trabalho que exige dedicação e esforço de ambas as partes. No entanto, nada está perdido quando existe amor. Nesse contexto, não há receita pronta, porém adotar alguns comportamentos pode melhorar a qualidade da convivência.

                   Algumas dicas que auxiliam bastante na manutenção de qualquer relação:

1. Não deixe passar pequenos incômodos;

2. Cultive diariamente o afeto e admiração;

3. Nunca durmam brigados;

4. Tenham encontros românticos;

5. Façam refeições juntos;

6. Não deixe o sexo para depois;

7. Conversem sobre finanças;

8. Tenham interesse pelos hobbies do parceiro;

9. Façam planos juntos;

10. Definam juntos suas prioridades;

11. Diga o que sente;

12. Dê prioridade à vida a dois;

13. Não espere tudo do outro, tome iniciativa;

14. Tenha vida própria, individualidade e privacidade responsável;

15. Receba o (a) companheiro(a) com abraços;

16. Demonstre carinho publicamente e não apenas entre quatro paredes;

17. Beijem de língua (lembra do início da relação?);

18. Admita seus erros e tenha humildade para pedir desculpas;

19. Faça uma escuta ativa;

20. Faça pequenas surpresas românticas e gentilezas.


                É imprescindível ter a consciência de que o investimento afetivo não pode existir apenas no período da conquista, mas cuidar da manutenção para manter uma relação interessante e saudável é fundamental. Lembrem-se de que os relacionamentos felizes não são Compostos por isenção de problemas, mas sim do interesse mútuo e maior em resolvê-los. Caso encontrem dificuldades, é muito válida a busca por ajuda profissional.

               As pessoas continuam desejando um par para fazer companhia uma vida inteira, porém, elas têm cada vez mais consciência de que para sempre é muito tempo e, o passar do tempo modifica os pensamentos, planos e projetos. A ideia é ter respeito e cumplicidade o máximo de tempo possível e como já dizia o Vinicius de Moraes - Que seja eterno enquanto dure.

Marjorie Calumby:

Professora Universitária de Psicologia, Psicanalista Clínica, Psicopedagogas.

 





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