Mamarazzi - Mães com transtorno compulsivo por fotografar cada segundo da vida do seu filho e o estresse gerado nas crianças.




 

O transtorno conhecido como “Mamarazzi” ainda não está catalogado na Classificação Internacional de Doenças (CID) que é a base para identificar tendências e estatísticas de saúde no mundo e contém cerca de 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte. Este documento fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais de saúde compartilhar informações de saúde em nível global. Porém, se o “Mamarazzi” não está presente de forma oficial na literatura da medicina, as suas consequências, em forma de irritabilidade e estresse, têm se apresentado de maneira gritante, em forma de queixas, dentro dos consultórios.

É verdade que as gerações anteriores aos anos 90 não conseguiam acompanhar com facilidade as fascinantes etapas que envolvem as fases de desenvolvimento das crianças. A tecnologia não disponibilizava de recursos tão avançados, e câmeras de registros fotográficos e de filmagens eram verdadeiros artigos de luxos.

Com o passar dos anos, a humanidade passou a contar com todos os benefícios da tecnologia da informação, que cooperam para enfrentar desafios atuais e facilitar a vida contemporânea em todos os seus aspectos, inclusive no entretenimento e lazer.

Antigamente, um simples passeio não podia ultrapassar a máxima de 36 poses permitidas num filme para revelação. Hoje pode render, centenas ou milhares de registros. Seria excelente ter um belo acervo de boas memórias se não fosse pelo excesso, pelo cansaço.

As crianças em sua maioria não compreendem a necessidade de parar suas brincadeiras e atividades para tantos registros, com tantas poses e sorrisos forçados – de fato, não há toda essa necessidade – então ela se sente desconfortável, se irrita, muitas vezes chora e xinga. Toda essa situação pode acabar tornando um momento de lazer ou de descontração num verdadeiro tormento para a família, que poderia ter sido evitado com a prática da empatia e bom senso.

Dificilmente o excesso de registros parte da vontade da criança.  Na maioria das vezes ela é intimada a ser fotografada de maneira quase autoritária e enfadonha. Esses excessos têm levado as crianças a perderem a naturalidade diante das câmeras e a diminuírem o desejo de registrarem espontaneamente seus momentos felizes. É como se ficassem com um pequeno trauma dos excessos, além de perderem muito tempo deixando de viver o mundo real enquanto seus cuidadores se preocupam com postagem nas redes sociais.

Aqui, cabe aos adultos a autoavaliação:

1. Qual o motivo de tantos registros?

2. A quem quero impressionar?

3. Estou vivendo ou atuando?

Atualmente, é comum querermos compartilhar em grande escala as nossas conquistas e os recursos disponíveis nos permitem fazer isso em pouco tempo. Porém, quando causamos algum nível de sofrimento em nós ou em alguém em nossa volta, é importante rever algumas considerações. 

As visualizações e curtidas liberam hormônios prazerosos e podem nos levar a uma compulsão. Hoje, os excessos de registros são considerados problemas de ordem mental e requerem ajuda profissional. Diante disso, no decorrer desse ano com previsão de muitos feriadões, diversão, postagens e bom senso podem compor  o melhor tipo de  engajamento. 


Marjorie Calumby 
Psicanalista,  psicopedagoga,  pedagoga,  professora universitária do curso de psicologia, psicóloga organizacional, colunista e palestrante. 



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