Rever amigos e parentes, celebrar reencontros e participar de festejos com alegria faziam parte dos desejos ávidos da maior parte da população a partir do momento em que houvesse uma flexibilização num possível relaxamento referente ao isolamento vivenciado pela Covid-19, na retomada do convívio presencial. Todavia, em um momento no qual o novo coronavirus apresenta níveis mais baixos de transmissão, e finalmente especialistas em saúde ratificam ser seguro e, inclusive, saudável e recomendável reencontrar pessoas, o cenário que tem chamado atenção é justamente o inverso: a introspecção que muitos vem apresentando, especialmente num período comemorativo que são as festas de fim de ano. As pessoas tem sentido falta da presença alegre do Espírito natalino. O que estaria acontecendo, afinal?
O mundo vem se adaptando ao novo
normal, mas nem todos estão emocionalmente preparados para isso. Sentir-se
ansioso para emergir ao mundo após dois anos de isolamento e encontrar
dificuldade para se socializar tem sido cada vez mais comum , tal fenômeno
recebeu o nome de “síndrome do reencontro" ou “ síndrome da cabana",
esse último conceito teve início nos anos 1960. Dois psicólogos americanos,
John e Jeanne Gullahorn, observaram que, ao retornar de longos períodos de
viagem, aqueles que voltavam para casa passavam por impactos emocionais,
necessitando se reajustar ao que antes era familiar. A síndrome da cabana não é
classificada como uma doença, mas, sim, como um fenômeno de resposta
psicológica. A mesma tem relação com a forma com a qual o ser humano
constrói o comportamento, ele se inicia com um estado de humor e, quando esse
estado de humor se repete diversas vezes, acaba se tornando um temperamento. À
medida que é replicado, esse temperamento passa a ser um hábito, que, aos
poucos, vai se tornando um traço da personalidade da pessoa; por isso que o
isolamento provocado pela pandemia levou a síndrome a acometer tantas pessoas,
já que elas foram condicionadas a um longo período de mudanças drásticas de
hábito.
Não há como negar: todos passaram por
muitas reflexões que levaram a mudanças significativas interiormente e, tal
experiência irá se refletir no comportamento de cada um. O período de
isolamento pode ter sido uma experiência traumática para muitos, ao mesmo tempo
em que, para outros, proporcionou uma conexão
grandiosa com seus valores internos e possibilitaram uma conciliação com a real
essência dos valores humanos.
Respeitar o próprio tempo é a palavra
de ordem para voltar à rotina,
retomar os laços afetivos e sentir-se confortável com sua própria presença com
o novo mundo. É importante compreender que ninguém precisa se sentir frustrado
ou culpado por não estar engajado num período de "good vibes", ainda
que em períodos festivos do ano.
Não há fórmulas mágicas para os
processos que nos exigem paciência e perseverança. Um passo de cada vez, sem
pressa e sem desistência e, então, aos poucos, a vida e o mundo retomarão
sua grandeza e chegará o tempo de reencontrar o clima sincero e espontâneo de
confraternização. Por enquanto, um sincero voto de um bom Natal e um novo
ano de sentido de vida resgatados para toda a humanidade já são de grande valia
para cada um de nós.
Marjorie Calumby Gomes de Almeida.
Pedagoga,
Psicopedagoga, Psicanalista Clinica Psicóloga Organizacional e
Profa. Universitária
no Curso de Psicologia – UNIBRA.