A era é de
tecnologia avançada, em que a vida da sociedade se torna cada vez mais prática,
ágil e sofisticada devido às facilidades conquistadas por tantas inovações tecnológicas.
Ela tem servido até mesmo de instrumento de paquera e viabilizado novas
relações, sendo essas iniciadas por meio de sites ou aplicativos dos celulares.
A ferramenta que tem trazido facilidade para se relacionar, também tem facilitado
a maneira abrupta de romper os relacionamentos.
Sumir, não
visualizar, não atender ligações e não responder as mensagens ou até mesmo
bloquear sem explicações tem sido queixas frequentes na lista dos desafios
afetivos que a sociedade contemporânea tem enfrentado. Este fenômeno tem o nome
de ghosting que se refere a uma derivação do inglês ghost (fantasma),
o termo tem sido usado para designar uma forma de terminar relacionamentos
(inclusive, quando, aparentemente, tudo está bem) na era digital em que a pessoa
desaparece, tal qual um fantasma, eximindo-se de dar qualquer satisfação.
Na era do
“Amor Líquido”, como bem descreve Zigmunt Bauman em seu livro. Vivemos relações
com laços momentâneos, frágeis e volúveis. Quando uma das partes do
relacionamento desaparece de maneira repentina, sem explicações, a outra pessoa
fica desamparada: ela precisa lidar sozinha com o fim de um relacionamento que
acabou sem avisos e sem que ela ficasse sabendo as razões para que aquilo acontecesse.
Se enfrentar um término já é complicado, passar por uma situação dessas pode acarretar
danos muito maiores.
O ghosting
pode causar muito sofrimento para a pessoa. A sensação de dúvida, culpa e questionamentos
sobre si persistem e os fantasmas da insegurança formam um enorme tormento. A
pessoa pode deprimir-se e sentir-se apática, culpada, inútil e desamparada. Por
outro lado, não dá para julgar quem faz o ghosting. Ao mesmo tempo que pode ser
simplesmente falta de empatia, pode ser também atitude de uma pessoa que
tenha medo de lidar com as emoções negativas do outro, dificuldade de manejar o
que o rompimento vai gerar na outra pessoa, pode ser por fuga, uma estratégia
por não saber lidar com o sofrimento alheio. Isso também pode vir de quem já
viveu esta situação, foi abandonado e este rompimento anterior a faz ter
dificuldade de romper porque sabe o que vai gerar. Enfim, as possibilidades
podem ser multifatoriais, porém, independente das desculpas é inadmissível a
falta de empatia com o outro que merece algum nível de respeito e consideração,
exceto se for um caso de risco/violência.
Aos que
foram vítimas de um ghosting o melhor a ser feito é aceitar o afastamento por
respeito a si mesmo e evitar todo o tipo de contato com o mesmo. Ficar se
culpando e fazendo questionamentos do tipo: “onde foi que errei" só irão
machucar ainda mais e consumir energia. Aproveite a experiência para lidar com cautela
e menos expectativas os futuros relacionamentos. Ame-se!
Quanto aos
praticantes do ghosting pode ser interessante um acompanhamento profissional
para entender o motivo da esquiva no lugar do enfrentamento de seus conflitos.
A falta de autoconhecimento pode gerar uma tendência a procurar relacionamento
superficiais e rápidos, e ter dificuldade em assumir relacionamentos longos e
duradouros. Até mesmo uma vida com muita conexão e pouca profundidade não
isenta de responsabilidade afetiva e os términos merecem receber a mesma
dignidade da fase inicial.
Marjorie Calumby Gomes de Almeida.
Pedagoga,
Psicopedagoga, Psicanalista Clinica, Psicóloga Organizacional e
Profa. Universitária
no Curso de Psicologia – UNIBRA.