As Perdas de nossos ídolos e o "luto coletivo": uma permissão para um sofrimento sem censura e terapêutico.

 


 


Quantos de nós não já se flagrou rindo, chorando, imitando, conversando, cantando, respondendo, refletindo ou se inspirando por algum artista, alguma pessoa que desperta alegria, motivação, admiração, credibilidade ou inspiração?

Por vezes, sentimos tanta conexão com aquela pessoa que temos até a sensação de que a mesma é praticamente uma amiga íntima ou um membro da nossa família. Assim é a relação de um fã com seu ídolo. 

Quando um ídolo morre, ainda que a esmagadora maioria dos fãs  nunca tenha tido contato com o mesmo pessoalmente, um turbilhão de tristeza se apresenta, indicando o sofrimento em grande escala que envolve o processo de perda, impactando integralmente a vida de inúmeras pessoas. Esse fenômeno é conhecido por "luto coletivo".

Por que traz tanta angústia a perda de pessoas que não conhecíamos pessoalmente?

Segundo especialistas  a  morte de personalidades conhecidas e admiradas pelo grande público permite que as pessoas que não "elaboraram" seus próprios lutos venham a fazê-lo, especialmente num período de imensa sensibilidade emotiva, como atualmente estamos atravessando devido a uma pandemia em que grandes perdas significativas foram vivenciadas em todo o planeta. Ainda não conseguimos elaborar tantos lutos e, uma morte que envolve tanta comoção a população como a do ator e humorista Paulo Gustavo, ou da cantora Marília Mendonça, como aconteceram recentemente, nos conduzem a reviver as nossas perdas pessoais, e assim, extravasar e desabafar emoções sufocadas e reprimidas. É um momento em que podemos pegar emprestado um pouco desse luto para chorar as nossas próprias dores, sem censura. Dessa forma, o luto coletivo é uma chance para entrarmos  em contato com o luto privado. Segundo pesquisas inglesas recentes mostram que quem não demonstra as emoções acaba sofrendo manifestações físicas no futuro.
Em tese, por mais doloroso que seja o movimento de despedida, vivenciar essa dor junto aos demais possui um valor terapêutico,  pois essas demonstrações resgatam o senso de solidariedade e reflexão, permitindo uma resinificação e avaliação sobre a qualidade do nosso próprio viver, conduzindo ao crescimento e lapidação emocional, características necessárias à  condição humana.

 


Marjorie Calumby Gomes de Almeida.

Pedagoga, Psicopedagoga, Psicanalista Clinica Psicóloga Organizacional e

Profa. Universitária no Curso de Psicologia – UNIBRA.

*Charge de abertura autorizada por Izamo_charges

 

 

أحدث أقدم